A História Esquecida: Como a Educação Foi Moldada Para Formar Empregados, Não Empreendedores

A ideia de que a escola existe para preparar crianças para o mercado de trabalho é amplamente aceita. No entanto, poucos se perguntam “qual tipo de trabalhador?” ou “quem definiu...

Atualizado 12/04/2025 às 01:13 por Alex Torres

A ideia de que a escola existe para preparar crianças para o mercado de trabalho é amplamente aceita. No entanto, poucos se perguntam “qual tipo de trabalhador?” ou “quem definiu isso?”.

Ao longo da história, o sistema educacional moderno foi moldado não para incentivar autonomia, criatividade ou empreendedorismo — mas sim para formar mão de obra obediente e previsível. Esse modelo surgiu com objetivos muito claros: atender aos interesses da Revolução Industrial, do Estado e das grandes corporações.


🏞 Antes da Revolução Industrial: o mundo do trabalho era outro

Antes do século XVIII, a maior parte das pessoas era autônoma ou autoempregada:

  • Camponeses produziam para consumo próprio

  • Artesãos dominavam seus ofícios

  • Comerciantes e pequenos donos de terras sustentavam comunidades

A ideia de “ter patrão” era limitada a situações específicas. A maioria das famílias possuía um nível de autonomia sobre seu trabalho e rotina.


⚙️ A Revolução Industrial muda tudo

Com a Revolução Industrial (a partir de 1760), surge a necessidade urgente de mão de obra em massa para as fábricas urbanas. Para isso, era necessário um novo perfil de trabalhador:

  • Pontual

  • Obediente

  • Capaz de repetir tarefas mecânicas

  • Que não questionasse a hierarquia

Mas havia um problema: os camponeses eram independentes e resistentes à disciplina fabril.

➡️ A resposta dos governos e empresários foi simples: reformar a educação para moldar o trabalhador ideal.


🇩🇪 O modelo prussiano: o “molde” das escolas modernas

A Prússia (atual Alemanha) foi o primeiro país a criar um sistema de educação estatal, obrigatória e centralizada, ainda no início do século XIX.

Objetivos do sistema prussiano:

  • Formar soldados obedientes

  • Criar cidadãos leais ao Estado

  • Desenvolver mão de obra para a indústria

  • Evitar revoluções e pensamento crítico

👨‍🏫 Johann Gottlieb Fichte, um dos pensadores do sistema, disse em 1807:

“O governo deve moldar os jovens de tal maneira que eles não possam pensar diferente do que se espera deles.”

Esse modelo dividia a população em classes:

  • Uma elite treinada para governar (universidades, ciências, artes)

  • As massas treinadas para obedecer (escolas públicas com currículo padronizado)


🇺🇸 Adoção do modelo nos EUA: Horace Mann e a elite industrial

O educador Horace Mann é conhecido como o “pai da escola pública americana”. Ele trouxe o modelo prussiano para os EUA em meados do século XIX.

Mann acreditava que a educação poderia “formar caráter”, mas também serviria para manter a ordem social, combater o analfabetismo e integrar imigrantes ao sistema.

Mais tarde, com o crescimento das indústrias, grandes empresários como:

  • John D. Rockefeller

  • Andrew Carnegie

  • Henry Ford

passaram a financiar e influenciar diretamente o sistema educacional. Eles queriam escolas que formassem trabalhadores produtivos e obedientes, não concorrentes ou questionadores.

💬 A frase atribuída à Fundação Rockefeller resume o espírito da época:

“Não queremos uma nação de pensadores. Queremos uma nação de trabalhadores.”

Mesmo que a autoria da frase seja contestada, o comportamento e os investimentos da fundação condizem com esse ideal.


🏫 Como isso se refletiu nas escolas

Muitos dos elementos do sistema escolar atual vêm diretamente dessa época:

Elemento Origem/Objetivo
Campainha Simula o sinal de entrada e saída das fábricas
Filas e uniformes Padronização e disciplina
Matérias compartimentalizadas Treinamento fragmentado como nas linhas de produção
Pouco foco em empreendedorismo ou criatividade Formar executores, não líderes

As escolas não estimulavam autonomia, mas repetição e conformidade. O aluno ideal era aquele que seguia ordens e tirava boas notas, não aquele que desafiava o sistema.


📉 A cultura do “emprego estável” no século XX

Após as guerras mundiais, principalmente entre 1950 e 1980, o ideal de sucesso passou a ser ter um bom emprego, especialmente no setor público ou em grandes corporações.

As famílias começaram a ensinar os filhos:

“Estude, tire boas notas, entre numa boa empresa e se aposente lá.”

O empreendedorismo passou a ser visto como arriscado ou coisa de quem não conseguiu um emprego bom.


🔁 A virada do século XXI e o retorno do empreendedorismo

Com a internet, a automação e a globalização, o mercado de trabalho mudou radicalmente:

  • Segurança no emprego diminuiu

  • Aposentadorias se tornaram incertas

  • Profissões sumiram ou se transformaram

  • O conhecimento ficou descentralizado

E, com isso, empreender voltou a ser não só desejável, mas necessário.

Hoje vemos um crescimento explosivo de:

  • Freelancers

  • Criadores de conteúdo

  • Startups

  • Negócios digitais

Muitos jovens estão redescobrindo o valor da liberdade, criatividade e iniciativa — valores que ficaram apagados por mais de um século.


🤔 Conclusão: precisamos reimaginar a educação

O modelo escolar criado no século XIX foi útil para aquele momento, mas não serve mais ao mundo atual. Se queremos uma sociedade mais inovadora, equilibrada e livre, precisamos:

  • Estimular pensamento crítico

  • Incentivar o empreendedorismo desde cedo

  • Permitir mais autonomia e projetos práticos

  • Ensinar habilidades para o século XXI (finanças, tecnologia, comunicação, criatividade)

A pergunta agora é: vamos continuar formando empregados para um mundo que não existe mais, ou vamos começar a formar criadores, líderes e solucionadores de problemas?


📚 Fontes e sugestões para aprofundar:

  • 📖 O que a escola não nos ensina – Mario Sergio Cortella

  • 📖 Weapons of Mass Instruction – John Taylor Gatto

  • 📖 The Underground History of American Education – John Taylor Gatto

  • 🎥 Documentário: The Forbidden Education (La Educación Prohibida)

  • 🎙 Palestras de Sir Ken Robinson sobre criatividade e escola (TED Talks)

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